sábado, 22 de outubro de 2016

O PESO DA GLÓRIA *


 
 




Se hoje se perguntasse a 20 bons homens que virtude pensam ser mais elevada, 19 responderiam: Abnegação. Se a pergunta, no entanto, fosse feita a qualquer um dos grandes cristãos da antiguidade, a resposta teria sido: Amor. Percebe o que ocorreu? Um termo negativo foi substituído por um termo positivo, e isso tem mais importância do que uma simples curiosidade filológica. A idéia negativa de Abnegação traz consigo não a proposta central de garantir boas coisas para aos outras, mas a de passarmos sem elas, com se nossa abstinência, não a felicidade do outro, fosse o mais importante. Acredito não ser essa a virtude cristã do Amor. O Novo Testamento tem muito a dizer sobre renúncia como um fim em si mesma. Temos o mandamento de negar-nos (renunciar) a nós mesmos e tomar nossa cruz para poder seguir a Cristo. Além disso, praticamente toda menção ao que vamos encontrar em última instância, se agirmos de acordo com essa ordem contém um apelo ao desejo. Se na maior parte das mentes modernas oculta-se a noção de que desejar o nosso próprio bem e querer usufruí-lo de fato é algo ruim, eu afirmo que essa noção surge furtivamente com Kant e com os estóicos, e não faz parte da fé cristã. Na verdade, se analisarmos as audaciosas promessas de galardão e a natureza surpreendente das recompensas prometidas nos Evangelhos, pareceria que Nosso Senhor considera nossos desejos não muito fortes, mas muito fracos, isto sim. Somos criaturas sem entusiasmo, brincando feito bobos e inconsequentes com bebida, sexo e ambições, quando o que se nos oferece é a alegria infinita. Agimos como uma criança sem noção, que prefere continuar fazendo bolinhos de lama num cortiço porque não consegue imaginar o que significa a dádiva de um fim de semana na praia. Muito facilmente, nós nos contentamos com pouco.
 
 
* Com o objetivo de preservar o estilo e a perspectiva do autor, foi conservado nesta obra a forma de apresentação dada por C. S. Lewis ao texto, como o emprego discriminado de iniciais maiúsculas, expressões redundantes e outras [N. do E.]
 
 
(Extraído do Livro: O Peso de Glória , de C.S. Lewis, Agora Em Edição Completa Com 9 Artigos, Editora Vida, p. 29 e 30)
 
 
 
 
 
 
 
 

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